Apesar dos avanços no debate sobre saúde mental, o cuidado com homens adultos ainda esbarra em barreiras culturais, estigmas internalizados e desfechos clínicos preocupantes.
No contexto do Novembro Azul, tradicionalmente voltado à saúde prostática, é urgente ampliar o olhar e considerar também a masculinidade como fator de risco psiquiátrico, com impactos diretos sobre o diagnóstico, o prognóstico e a adesão terapêutica.
A face oculta do subdiagnóstico: quando o silêncio vira sintoma
O silêncio masculino não é apenas cultural, ele tem impacto clínico direto.
Um estudo de 2023 publicado no Journal of Affective Disorders mostrou que homens relatam menos sintomas emocionais e mais sintomas físicos em quadros depressivos, o que dificulta o reconhecimento precoce.
Além disso, os critérios diagnósticos tradicionais foram construídos com base em expressões emocionais mais comuns entre mulheres, o que favorece o viés de invisibilização.
No caso do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em adultos, essa invisibilidade é ainda maior: perfis masculinos internalizantes e de alto funcionamento passam despercebidos por anos.
Quando o diagnóstico finalmente chega, muitas vezes já há comorbidades instaladas, como abuso de substâncias, ideação suicida ou depressão resistente. O silêncio, nesses casos, não é ausência de sofrimento, é um sintoma mascarado.
Epidemiologia silenciada: homens morrem mais, mas tratam menos
De acordo com o DataSUS (2024), a taxa de suicídio entre homens é 3,7 vezes maior do que entre mulheres, com picos entre 25 e 45 anos.
Mesmo assim, o acesso a consultas psiquiátricas e terapias é proporcionalmente menor entre eles. Na prática, isso significa que o homem com depressão chega mais tarde ao sistema de saúde, com quadros mais graves, maior uso de medicamentos e menor adesão ao tratamento.
Há ainda baixa procura espontânea, resistência à psicoterapia, dificuldade de verbalizar sofrimento e maior tendência a estratégias de coping disfuncionais, como:
• uso de álcool e outras substâncias
• isolamento social
• hiperprodutividade
• irritabilidade crônica
No TEA adulto masculino, o quadro é ainda mais delicado: a baixa percepção social sobre o autismo em homens atrapalha o diagnóstico precoce e aumenta o risco de iatrogenia psiquiátrica.
Adesão terapêutica no homem adulto: o que realmente funciona
Homens tendem a resistir mais ao tratamento psiquiátrico convencional, o que exige abordagens adaptadas. Estratégias com melhores resultados incluem:
• Psicoeducação estruturada, com linguagem objetiva e foco funcional, reduz abandono precoce.
• Intervenções direcionadas à performance social e laboral, mais aceitas do que abordagens centradas apenas no sofrimento.
• Terapias breves e orientadas a metas, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) focada, aumentam a adesão inicial.
• Uso de c4nn4b1s m3d1c4l, em contextos específicos e sob rigor técnico, pode ser alternativa para casos resistentes ao uso de ansiolíticos e estabilizadores.
• Interdisciplinaridade (psiquiatra, educador físico, terapeuta ocupacional) com foco em desempenho e funcionalidade tende a gerar mais engajamento.
Essas estratégias não substituem a escuta empática, mas traduzem o cuidado para uma linguagem mais acessível à cognição masculina, especialmente em pacientes com TEA, onde a literalidade e rigidez cognitiva exigem roteiros terapêuticos mais objetivos.
Novembro Azul: para além da próstata, o que o homem não fala também adoece
Reformular o Novembro Azul é uma necessidade urgente.
Falar sobre próstata é importante, mas ignorar a saúde mental masculina é perpetuar um risco invisível.
Profissionais de saúde precisam reconhecer o viés de gênero na escuta clínica e adaptar suas abordagens.
Muitos homens não dizem “estou deprimido”, eles trabalham demais, se irritam, bebem mais, ou se isolam.
Se o paciente não verbaliza, cabe ao profissional ajustar a escuta.
Reconhecer a masculinidade como fator de risco psiquiátrico não é uma crítica à identidade masculina, mas um chamado à responsabilidade médica e social.
Conclusão
O homem adoece diferente, e, muitas vezes, adoece em silêncio.
Enquanto a sociedade ensina o homem a ser invulnerável, a medicina precisa ensiná-lo a se escutar.
Falar sobre saúde mental masculina é ampliar o conceito de cuidado.
É entender que prevenir também é ouvir.
Referências
• Oliffe, J.L. et al. (2022). Masculinity and mental illness: a scoping review of the role of gender in men’s help-seeking. Journal of Affective Disorders.
• Gonçalves, M. et al. (2023). Health care avoidance among men with autism: a population-based study. Autism Research.
• Ministério da Saúde. Painel de Indicadores de Saúde Mental no Brasil, DataSUS (2024).

Homens também adoecem: a masculinidade como fator de risco psiquiátrico invisível
Apesar dos avanços no debate sobre saúde mental, o cuidado com homens adultos ainda esbarra em barreiras culturais,

